Categoria: Para leitura da familia
-
A elevada destruição de patrimônio em conflitos familiares
Texto pulicado no Jornal valor econômico de 26/01/2010 – Página D2
Por Renato Bernhoeft – fundador e presidente do conselho de sócios da Höft consultoria societária
As tentativas de blindagem do patrimônio familiar, como criação de “holding patrimonial”, testamento, doação em vida e governança corporativa, entre outros, têm grande utilidade na sucessão dos negócios. Mas nenhuma delas ataca de fato as causas que levam a conflitos, em sua maioria de origem cultural e emocional, nas famílias empresárias.
Com base em pesquisa da Höft Consultores, o índice de destruição de patrimônio familiar no Brasil atinge 70%, nível superior ao mundial, de 65%, segundo levantamento do Family Business Consulting Group International (FBCGI).
A maioria dos nossos empreendedores tem origem simples. Muitos são imigrantes que fugiram de situações extremamente adversas. Preocupados em construir e deixar um patrimônio aos descendentes, tornaram-se ausentes, patriarcais e dogmáticos nas relações familiares.
Muitos se esforçaram para “proporcionar” aos filhos – do ponto de vista estritamente material – o que não tiveram na própria infância. A consequência em muitos casos foi uma relação de conflitos.
Essa conduta de acumulação não está acompanhada de um preparo dos herdeiros para o gerenciamento do patrimônio. A transferência de uma herança, sem o devido legado, termina provocando baixa identificação emocional com o que é herdado. Entenda-se por legado tudo aquilo que faz parte da construção do patrimônio, dos valores e sacrifícios necessários.
A maioria dos patriarcas preocupa-se em buscar soluções do ponto de vista legal e tributário para a transferência dos recursos, mas não se permite tempo e afeto na transmissão dos significados que impregnam aquilo que foi materialmente acumulado.
Outro ponto importante: nem todo empreendedor se torna um empresário. Entenda-se empresário como alguém que compreende suas conquistas numa perspectiva de continuidade pelas novas gerações.
A relação do empreendedor com sua criatura – a empresa – é de um caráter tão visceral que ele não imagina a criatura sem ele, o que dificulta a inserção de seus descendentes no processo de sucessão.
Isso é provocado pelo receio da perda de poder. A única alternativa para as exceções que acompanhamos foram aquelas em que o empreendedor conseguiu encontrar novas fontes de preservação da auto-estima por meio de outras formas de substituição do poder.
Outro componente forte é o despreparo dos cônjuges. E não estamos aqui falando do gerenciamento dos negócios, mas do entendimento do seu papel num contexto ambíguo de conflitos. Isso especialmente quando a família desenvolveu uma cultura do “faz de conta”, com uma integração hipócrita para iludir pais ou até mesmo a sociedade. As divergências são omitidas para “poupar” todos de algum posicionamento que não se ajuste às expectativas dos demais.
Merecem também destaque estruturas familiares e patrimoniais que desenvolveram uma conduta de dependência financeira do patrimônio comum. Impede-se, sob varias formas, que a nova geração possa criar fontes alternativas de liquidez administrada à sua maneira.
Considerando que, no médio e longo prazo, os padrões de vida dos novos núcleos familiares terão diferenças, a não aceitação das desigualdades pode criar uma postura de passividade na busca de soluções.
Amplia-se esse quadro complexo quando a maioria também olha a empresa da família como única alternativa de realização profissional. Surge ainda a tentativa de procurar repetir nas novas gerações o modelo de sociedade/propriedade que norteou a primeira geração.
Poucas famílias compreendem que, a partir da segunda geração, necessitam preparar-se para o papel de sócios de um grupo de pessoas em que não houve a liberdade da escolha. Portanto, apesar da irmandade ou relação de primos, encarar-se como sócios é um fato que exige preparo, humildade e muita confiança mútua.
O grande desafio para a maioria das famílias não está no desconhecimento de muitas dessas questões, mas na resistência ou incapacidade em lidar com esses temas. Seja para concluir que podem continuar juntos, dividir ou vender o patrimônio.
Até porque, a maioria que sucumbiu a esses desafios não foi vendida, mas comprada por concorrentes ou investidores, sem nenhum envolvimento emocional. Fica aqui a provocação para que as famílias tratem esse tema de forma preventiva.
-
Ditados sobre Negócios
Ditado de Laucídio Coelho sobre negócios:
Um bom negócio feito com pessoas ruins, pode eventualmente acabar virando um mau negócio. Enquanto um mau negócio, feito com boas pessoas, pode acabar sendo um bom negócio no futuro.Procurar não fazer negócio com melhoradores de negócios, pessoas que nunca estão satisfeitas, e ficam procurando oportunidades para melhorar o negócio que já tinha sido acertado.
-
Observações e meditações para meus filhos
Escrito em Agosto de 2001
Tenho todos os filhos em boa conta, desejando o melhor para cada um. Reservo à Cynthia e Hélio a decisão do que, quando e como fazer. Não erra quem não faz!!
Achamos que já é tempo de não fazer coisas novas para o casal ou o grupo. Que cada um examine o quer empreender e se faz sozinho ou em sociedade com irmãos.
É verdade que a união faz a força. É importante aplicar força na direção certa, para construir e não desperdiçar esforço.
Estamos vivendo grandes mudanças com disponibilidade de muitas tecnologia novas e modificações no consumo e no mercado. Levar também em conta os riscos inerentes em cada atividade ou situação.
Tempo, calma, usando o talento para achar os melhores negócios ou nichos de mercado ou trabalho.
Sugiro trato dos assuntos com objetividade, sem mexer para trás e tentando fazer o melhor para frente!!
É penoso ouvir comentários cáusticos sobre meu relacionamento com meus filhos. Peço evitá-los!!
Eu gostaria de no conjunto das atividades diminuir a atividade rural. Naturalmente que nesta altura de vida a geração ativa atual (3ª) é que tem de achar os melhores rumos e decidir o que fazer.
Atividade rural está sujeita a altos riscos ambientais, trabalhistas, distância por rodovias movimentadas. E a atividade rural está com baixa rentabilidade.
Eu tenho confiança nesta 3ª geração – acho que tem bom senso suficiente para examinar as coisas com calma e achar meios de sobreviver e melhorar de posição no meio econômico e social. Há massa cinzenta adequada, há disponibilidade de meios para aprender e examinar com calma e até “modéstia” a “conjuntura” e as aptidões para fazer acontecer.
No momento meu objetivo é– criação só de rebanhos para venda de reprodutores: Touros e Matrizes, sêmen, embriões.
Destinar os descartes para engorda ou venda.
Remanso: terra de cultura e campo continuar em lavoura própria – podendo aumentar dentro da capacidade de maquinas e gerencial.
Outras fazendas – Parcerias – tirar tempo e talento para montar parcerias que sirvam para o parceiro e sejam o melhor possível para nós. Parceiros podem querer desbravar com sorgo ou aveia, começando parceria no cedo em 2002.
Planejamento dentro da conveniência gado/lavoura, rentabilidade!!!!!!
-
Carta a meus filhos e medicos
Campo Grande, 17 de outubro de 2002
A meus filhos e médicos que me assistem,
Tenho acompanhado, com alguma preocupação, o avanço da ciência e da tecnologia no campo da medicina com o objetivo de prolongar a vida humana, de modo que, atualmente, os meios de manutenção de sobrevida de pacientes em fase terminal são quase inesgotáveis.
Ocorre, entretanto, que, em casos extremos, manter o doente vivo artificialmente, por meio de aparelhos, medicamentos e outros expedientes que só evitam que o paciente exale o último suspiro, porém sem nenhum proveito útil, sem oferecer qualquer garantia ou mesmo esperança de cura, constitui imenso sacrifício não só para o próprio doente, como para os seus familiares e amigos, além de acarreta severas despesas, muitas vezes inúteis, infligindo, ademais, ao paciente, sofrimentos injustificáveis.
Pensando nessas hipóteses é que tomei a decisão inabalável de lhes endereçar, por meio desta carta, uma ordem expressa.
Assim, no caso de ocorrer comigo situação em que eu esteja em estado terminal irreversível, já inconsciente, incapaz de manifestar minha vontade, peço a vocês, ou melhor, determino, absolutamente cônscio do que estou fazendo, que não sejam adotados procedimentos extraordinários, com o fim apenas de prorrogar o desenlace final, devendo, apenas, serem-me administrados medicamentos destinados a aliviar a dor e a prover o meu conforto.
Tenho perfeito conhecimento da seriedade desta deliberação, e de suas conseqüências, entretanto, reafirmo que estou com plena capacidade física e mental, absolutamente consciente, por isso, peço a vocês que a cumpram como determinado, pois assim procedendo estarão satisfazendo meu desejo.
Finalmente, comunico que dei conhecimento dessa determinação a diversos amigos, entre eles, os que assinam, como testemunhas, esse documento.
-
Conselho Familiar
Finalidade: – Nossa família dispõe de “ativos”, distribuídos em quatro firmas ( sociedades por quotas), duas urbanas e duas rurais já de propriedade dos 06 filhos. O restante dos bens estão na Pessoa Física (H e C).
São ativos que bem administrados produzem uma renda apreciável.
Nós todos desejamos manter ou melhorar a rentabilidade dos negócios, proporcionando aos familiares um bom nível econômico.
Propomos preservar as coisas boas e corrigir as deficientes.
Uma finalidade deste Conselho Familiar é proporcionar aos membros o conhecimento das realidades.
Na ocorrência de um processo sucessório a tendência histórica (observado nas outras famílias) é a separação dos ativos entre os familiares.
Essa separação de partes toma tempo, trabalho e conhecimento.
O bom relacionamento, a continuidade das atividades econômicas evita prejuízos e permite tempo para as pessoas se certificarem dos valores e dos interesses de cada um.
Todas as pessoas tem qualidades e deficiências. Proponho que demos ênfase as qualidades, permitindo que os defeitos sejam minimizados.
Proponho pois que elejamos D. Cynthia para presidente deste conselho e que ela nos conduza a bom desempenho.
-
Você e os 33 anos
Gostaria de transmitir a vocês alguns pensamentos sobre atividades profissionais nos próximos anos.
1.Podemos dividir a economia, como segue:
Setor Primário – Mineração e Agricultura (Pecuária e lavoura) – incluindo exploração silvo florestal.
Setor Secundário – Indústria – desde a fabricação das primitivas esteiras de transporte sem rodas, até a fabricação de eletrônicos e a bomba atômica.
Setor Terceiro – Serviços – que nas tribos primitivas eram executados pelos curandeiros e pajés. Atualmente por todos os prestadores de serviços desde médicos e advogados, até consultores das mais variadas atividades,encanadores,trabalhadores em limpeza etc.
2. Cada pessoa nasce com uma genética própria dele. A criação, a educação, as influencias do meio em que vive vão interagir com o que cada um traz nos genes – madurando ou não uma pessoa, que certamente vai ser diferente de qualquer outros.
3. É compreensível que em famílias com disponibilidade de recursos patrimoniais, de atividades produtivas ou de negócios haja uma “vontade” de trabalhar dentro das estruturas existentes.
4. Uma sociedade civilizada cria infinitas variedades de possibilidades de exercício profissional e de meios de vida.
5. O volume de conhecimentos que está sendo gerado é muito grande. Conhecimentos científicos e empíricos são expandidos o tempo todo. Tecnologias são desenvolvidas e a possibilidade de aplicações novas são quase infinitas.
6. O setor terciário – Serviços é o que mais cresce.
7. A gama de atividades na agricultura, nos negócios imobiliários tem limitações. Não temos capacidade de crescer o suficiente para aproveitar todo o talento disponível nas pessoas dos nossos 17 netos, 04 bisnetos e os outros que virão.
8. Nem convém absorver. Em especial não convém para vocês, na maioria das situações.
Atritos, conflitos, stress ocorrem em qualquer relacionamento. Quando entra o fator parentesco: (pais, filhos, irmãos, tios, etc.), entra o fator afetivo com muito mais intensidade.
Filosofando:O que Cynthia, Hélio e os pais de vocês querem é o melhor para cada um: sucesso no trabalho, amor, satisfação, felicidade.
– Se “pintar“ uma atividade conosco, ok – mas lembre sempre que trabalhando com parentes o fator afetivo complica o relacionamento.
Tanto o “patrão” como o “peão” acabam engolindo mais “sapos” do que gostariam de engolir.
D. Cynthia’s Says: “ That is the way the cookie crumbles.”
Dr. Hélio: “Você é você e suas circunstâncias”.
Até os 23 anos você acha que “pode fazer tudo o que quiser”. Dos 23 aos 33, você descobre as limitações, suas e das circunstâncias!!!
Para ser uma pessoa equilibrada você tem de reconhecer e respeitar essas limitações.