Categoria: Homenagens de parentes e amigos

  • Quando se conhece um sábio

    Sobre Hélio Coelho – Por João Bosco Leal – http://www.joaoboscoleal.com.br/

    Há quase trinta anos, logo que aqui cheguei, conheci um sábio. Era impressionante como se interessava por todos os assuntos. E perguntava sobre tudo.

    Em política, apesar de nunca haver se envolvido, fazia questão de sempre ter alguém de confiança em cargos de seu interesse, motivo pelo qual ajudava essa pessoa a galgar a posição, e depois a mantê-la. Em economia, inventava novos negócios o tempo todo. Investia em vários setores, urbanos e rurais, e parecia possuir uma gana infindável por investir os ganhos sempre no local onde morava, fazendo com isso, como dizia, o dinheiro circular naquela sociedade. Dizia que o dinheiro tinha que estar sempre circulando, gerando riquezas em todas as mãos.

    Em tecnologia, dava banho em todos os jovens que dele se aproximavam, fazendo com que todos o ouvissem. Debatia, cobrava explicações e aí tocava em frente, adorando ensinar, a quem quisesse, tudo o que aprendia. O entusiasmo por novas experiências era contagiante e com facilidade contaminava todos ao seu redor. Exigente, cobrava o cumprimento fiel de qualquer tipo de compromisso, até do horário. Criava muitos conflitos, seja com sua equipe ou com seus ouvintes, o que, em várias oportunidades, gerava críticas de pessoas que entendiam ser difícil com ele trabalhar ou conviver.

    Ria quando outros, principalmente os muito próximos, não acreditavam em alguma nova tecnologia que estava seguindo, principalmente a genética reprodutiva bovina. Pessoas muito jovens ou que, como ele, eram de outra época, também grandes especialistas naquilo que faziam, mas que não acompanharam algumas evoluções científicas que, em busca de produtividade, faziam diversas experiências, como cruzamentos chamados industriais, estudos dos métodos de transmissões genéticas e outras possibilidades para a modernização da produtividade e da precocidade bovina.

    Ao conseguir o sucesso desejado com qualquer dessas experiências, principalmente o financeiro, gostava de comentar com os incrédulos o resultado obtido, sabendo havê-los deixado morrendo de ódio, mas ao mesmo tempo tentando fazê-los acreditar. Talvez uma de suas brincadeiras prediletas fosse fazer isso com um irmão, que adorava, mas para quem a genética vinha da seleção natural, de anos de trabalho na escolha visual dos melhores reprodutores, da exclusão dos piores animais, machos ou fêmeas, e da prática de quem fazia a seleção, desacreditando daquela seleção realizada matematicamente, com o estudo dos números obtidos na produção.

    Com esse investimento em novas tecnologias de genética reprodutiva bovina e o sucesso alcançado, esparramou o seu nome e o de seus produtos por todo o país, de norte a sul, agregando cada vez mais valor aos mesmos, mas continuava perguntando, cada vez mais. Aí estava sua sabedoria, a humildade de perguntar, mesmo sabendo a resposta, ou perguntando o que realmente não sabia. Mas perguntava sempre e muito. Ouvia sempre outra opinião.

    Dizia muito que ao realizarmos algo, mesmo não o realizando de modo perfeito, tínhamos feito algo. Que o importante era “fazer acontecer”, e não a perfeição do modo como foi feito.

    Eu sempre soube que os nossos idosos têm muito a nos ensinar, apesar da resistência de muitos jovens em aproveitar esse fato, imaginando sempre o contrário. Sempre soube que o sábio ouve os mais velhos, pois aprenderá com estes a experiência sobre o que já viveram, e que ele nunca poderá viver, o passado.

    Com esse sábio aprendi que quem possui a humildade de perguntar, seja para jovens ou para idosos, aprende ainda mais, e chega mais longe. Com os anos estou aprendendo, cada vez mais, que o sábio pergunta, o que é muito mais do que simplesmente ouvir.

  • Hélio Coelho

    Publicado no Jornal Correio do Estado de Mato Grosso do Sul no dia 20-02-2009

    Por: ALFREDO PINTO DE ARRUDA, MÉDICO, PROFESSOR UNIVERSITARIO, EX-SECRETARIO DE SAÚDE DE CAMPO GRANDE E DO MS – FUNDADOR DO PRONCOR.

    Filho do Sr. Laucídio e de dona Lúcia Coelho, nascido na Fazenda BelaVista. Eram vários irmãos, andaram por diferentes caminhos, todavia, o Doutor Hélio escolheu o mais difícil e apaixonante deles: a medicina. Formou-se na minha faculdade, a então famosa Faculdade da Praia Vermelha Concluiu o curso com distinção, como era de costume na época, referir-se aos melhores alunos. Foi completar sua bela formação na Norte América, como meu pai dizia. Ficou por lá longos e proveitosos anos onde conheceu dona Cynthia, sucumbiu, e casou-se. Voltou dos EUA e foi ser professor de Medicina na Escola Paulista de Medicina; lá conheceu, na sua plenitude, o amor por sua profissão.

    Foi mestre sábio, extremamente ético, não se afastando jamais do seu admirado bom senso, a meu ver, o maior dos predicados de um bom médico. Trabalhei com ele ainda como médico, lecionamos juntos na Escola de Medicina, hoje federal de MS. Criou método de ensino revolucionário na época, com os alunos acompanhando os professores na pratica medica diária. Conheci, graças a isso, grandes médicos de hoje, alguns trabalharam comigo no Proncor. Por sua liderança, tentamos faze-lo reitor. Não tivemos sucesso. Creio que o medo dos medíocres, foi vitorioso. Aliás, como vencem, os medíocres!

    Era, como disse, filho de Sr. Laucídio, e em decorrência disso, achou por bem tomar conta das coisas. Iniciou longa jornada, à qual se dedicou até o fim de sua longa vida. O patrimônio era importante para sua família: essencial no seu futuro. Fez sublime sacrifício, abandonou a sua profissão, paixão de sua vida e merecia o sacrifício que fez.

    Foi empresário brilhante, procurava com obstinação incluir nos seus negócios o que sua amada medicina lhe ensinara: a pesquisa, a lógica, o resultado. Era um admirável perguntador. Introduziu raças de bovinos no mercado, contaminou seus filhos com sua fé. Reviu com espírito de pesquisador a maneira tradicional de selecionar animais; priorizou o fenótipo sem deixar de sorrir com a beleza. Foi em frente com determinação, achava que o Nelore tinha que amaciar sua carne, e foi a procura disso. A medicina lhe dera a paixão pela busca: descobriu um marcador genético que caracterizava a maciez da carne e incorporou esse conhecimento na sua pratica. Introduziu tudo que imaginou nas suas pesquisas, e foi um grande vencedor, disso eu tenho certeza. Reservei, para encerrar, a minha grande admiração por este grande homem, e quero deixar gravado que sem seu apoio o Proncor atual não existiria. Foi pai exemplar, fui eu quem deu a noticia da perda de seu filho querido, medico como ele. Não me esquecerei jamais da mímica expressiva do seu rosto, onde vi uma expressão de sofrimento e controle que raramente se vê. Nas horas que o visitava, como seu médico e como seu amigo, assistia suas angústias, suas tristezas. Nessas horas, Deus me iluminava e me fazia falar em medicina, e com isto, o fazia extremamente feliz. Sentiremos sua falta, valeu Dr. Hélio.

  • Um grande professor

    Uma homenagem ao Dr. Hélio Martins Coelho de sua neta Luiza Spengler Coelho, engenheira ambiental

    A vida só fica completa quando já se teve um grande professor. Não precisa ser um professor de alguma matéria da escola, pode ser um pai, um tio, ou no caso da minha família: um avô. Pois um professor não é só aquele que passa conhecimentos, mas também, aquele que passa valores.

    Meu avô foi um grande professor, pois deixou um exemplo, um exemplo a ser seguido. Não são só os inúmeros telegramas, e as incontáveis coroas de flores que mostram a importância que teve a vida do Dr. Hélio, mas sim, a incrível família de pessoas estudiosas, honestas e perseverantes que ele deixou. Estas pessoas continuam a contribuir todos os dias para a construção de um mundo melhor para os seus descendentes, pois aprenderam com ele a viver assim, contruindo e inovando sempre.

    Grandes professores, como o meu avô, nos ensinam como nos comportar nas situações da vida, mudam a nossa maneira de pensar, ampliam nossos horizontes e principalmente tocam nosso coração. Grandes professores sabem que sempre tem mais o que aprender, sabem que crescimento pessoal é um imperativo, e sabem que compartilhar o conhecimento pode ser feito de diversas maneiras, não só com giz e quadro negro. Mas principalmente, grandes professores nos inspiram a ser pessoas melhores.

    A vida vai passando, e ás vezes a gente não pára para pensar e valorizar nossos familiares, sempre ficamos orgulhosos percebendo que os outros os valorizam, mas por vezes, os próprios netos ou filhos não conhecem todas as suas realizações. E a morte muitas vezes chega sem anunciar, e leva nosso grande professor, aí a gente percebe que algumas lições ficaram inacabadas, que havia mais por saber. Mas aí lembramos, como o grande professor já havia ensinado, que sempre haverá mais por saber. E então concluímos, que no final, o que vale é viver sempre segundo o exemplo da pessoa que o grande professor era, no caso, o meu avô Dr. Hélio Martins Coelho.