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  • Na sombra do Pé de Pateiro

    Conversando depois do jantar em minha visita mensal à Fazenda Quatro Irmãos, em Cáceres, questionei a ausência do Joaquinzão, que era quem normalmente trazia os cavalos para minhas voltas pela fazenda.

    Perguntei ao Capataz Cinésio onde andava o Joaquinzão. Ele contou a seguinte estória:

    O cerqueiro Toribio estava acampado a beira do Corixão da Bolívia com a mulher, numa barraca encostada na sombra de um pé de Pateiro.

    Ele estava completando a cerca da divisa com a Fazenda Florida neste ano em que a enchente fora pequena e permitindo levar a cerca mais perto da divisa com a Bolívia e o vizinho.

    A comitiva vinha parando arrodeio para curar bezerro e salgar o gado.

    O Joaquinzão passando perto do Corixo viu a Ana Preta que estava ensaboando roupa numa pedra no Corixão, resolveu para cumprimentá-la.

    Conversando, a Ana Preta contou que o marido tinha ido na Fazenda Flórida, que era ali perto pegar um charque de carne de cervo que o Dorileo tinha caçado com ele no dia anterior.

    A Ana Preta estava terminando de lavar a roupa e perguntou ao Joaquinzão, se ele não queria tomar um tereré.

    Eram 09 horas de uma manhã de agosto e estava começando a fazer calor. Joaquinzão hesitou um pouco mas não resistiu e foi tomar o tereré na sombra do Pé de Pateiro que estava bem folhudo nesse ano.

    A Ana Preta era nova na Fazenda. Veio da Fazenda Tremendal com o cerqueiro Toribio, quando ele voltava de Cáceres com as compras.

    Perguntando como ela estava se dando aqui no Quatro Irmãos, comentou que ela era cara nova na Fazenda, que ela estava mais bonita depois que descansou da viagem de carreta.

    Conversa vai, conversa vem, eles acabaram se deitando nos pelegos que estavam abertos na sombra do Pateiro.

    Nisso chega a pé e quieto o Toribio Cerqueiro e “aí que aconteceu o desastre”, relatou o capataz: Ela apareceu desesperada aqui na sede contando que o Toríbio tinha sumido. Ora, o Joaquinzão também não retornou da volteada no fundo da invernada do Campo Fora. Apesar de uma longa procura não acharam o Joaquinzão.

    Quando o cavalo chegou arreado na sede da Fazenda eles sentiram que algum desastre tinha acontecido.

    Continuando a procura pelo Joaquinzão, finalmente ao chegar no Poço Fundo do Corixão para dar água para a tropa, viram um redemoinho de urubus que estavam rodeando o corpo inchado do Joaquinzão. Ele estava com a cabaça quase separada do corpo por uma degolada certeira.

    Poucos dias depois, chegou a notícia pela rádio-peão que o Toribio tinha sido visto de passagem no destacamento militar da Corixa.

    Voltando à sede, o capataz chamou a Ana Preta no escritório e após muitas lágrimas ela contou o acontecido debaixo do pé de pateiro.

    A rádio-peão comenta que Joaquinzão se afundou no trabalho nas derrubadas daquelas matas ao Norte de Cáceres.

    E nunca mais voltou!

  • Invernada do Aperto

    A comitiva do Retiro vinha juntando o gado na vazante do Orion que estava seca.

    Numa volta da vazante, o Tomás estava perfurando um tanque com o Cat D4 do Corintho.

    Os peões ouviam o barulho do motor, mas chegando perto verificaram que o trator de esteiras estava funcionando sem escavar.

    Acharam estranho e procuraram em roda pelo Tomás. Foi quando de cima de um paratudo ele chamou por eles. Surpresos eles perguntaram: O que foi Tomás?

    O Tomás contou: Eu tava tomando um tereré aqui na sombra quando uma “Pintada” curiosa veio ver quem estava fazendo o ronrunar do trator.

    Veio na minha direção e eu subi nesse paratudo. Foi um “aperto”!

    Desde então essa invernada que era nova passou a se chamar “Invernada do Aperto”.

  • A Ponte do Rio Vacaria

    Em 1938, o Sr. Laucídio e D. Lúcia, moravam na fazenda Bela Vista, distante do Rio Brilhante 08 léguas (48 Km) de estrada de terra. Rio Brilhante tinha uma rua principal, 3 travessas. Um médico, uma farmácia, a pensão de D. Maria, o correio e 3 casas de comércio.

    A Viagem de Fordinho tomava duas horas, atravessando o Rio Vacaria pela balsa do Domingão no “patrimônio da Aroeira”.

    Essa balsa era um tablado montado sobre duas canoas e conectado por uma carretilha ao cabo de aço que ia de um lado ao outro do rio. Captando a força da correnteza, o balsero conduzia a balsa de um lado a outro. Passavam cavaleiros, carretas e automóveis. Os bois carreiros e as comitivas de gado nadavam o Rio.

    Seu Laucídio pediu ao interventor Julio Muller recursos para fazer a ponte.

    O Governador respondeu: Faça a ponte, diga quanto custou que eu lhe pago.
    Seu Laucídio empreitou a ponte ao João Candido, apelidado de Paulista, recém chegado de São Paulo. Ele sentiu que tinha de reforçar as especificações do projeto feito por Engenheiro.

    Os palanques e vigamentos de aroeira vieram da fazenda Belas Artes, conduzidos na “alcaprina” que é uma carreta alta, que alçava pesadas toras nas “Sua Barriga” e era puxada por 06 juntas de bois carreiros.

    A Ponte(veja a foto) custou, só a mão de obra e as ferragens 37 mil reais, que o Júlio Muller pagou imediatamente. A velha balsa foi desmontada e o Domingão balseiro mudou de serviço.

    A Ponte funcionou muitos anos até a substituição por uma de concreto quando foi aberta a estrada C. Grande , Entroncamento, Rio Brilhante, Dourados.

    Pouco a pouco a madeira da ponte foi sendo roubada, ficando as vigas mestras que serviam a garotada que vinha equilibrar sobre o Rio, criou capim e um dia seco de outubro, foi consumido pelo fogo que algum mal feitor colocou.

    Seu Laucídio lá no céu, sentado com o Edmar , balançou tristemente a cabeça, sem nada dizer.