Categoria: 2004

  • O maior negócio do país

    O agronegócio está por trás do processo de desenvolvimento dos países mais avançados do mundo.

    A maioria das pessoas que moram nas cidades desconhece a dimensão desse segmento na economia do país. Há na sociedade uma idéia equivocada de que ele serve apenas para produzir comida.

    Na verdade, a riqueza de um país vem da agricultura e da pecuária, já que nenhuma nação nasceu industrial. Todas começaram com a agropecuária, desenvolveram os serviços e depois suas indústrias.

    Pouco se dão conta, por exemplo, de que, se não houvesse o produtor de cevada para fazer a cerveja, não haveria emprego para o motorista de caminhão que a transporta nem para o operário de fábrica de lata, garrafas, engradados, tampinhas e mesas de bar.

    Também não haveria trabalho para o garçom nem para a costureira que faz seu paletó. Muito menos para o publicitário que faz o anúncio da cerveja.

    Na Páscoa, quando vemos propaganda daqueles ovos deliciosos, é preciso saber que chocolate não aparece enrolado no pape. Frango também não vem embalado.

    Trabalhamos diariamente com papel. Quem planta a árvore que dá celulose? É o agricultor.

    Quer dizer, o agronegócio gira em roda de toda a nossa economia
    . Os automóveis rodam com pneus porque um produtor planta seringueiras, de que se extraí látex para fabricar borracha. A calça jeans tem como matéria – prima o algodão. Sapatos, bolsas, cintos e carteiras existem graças á criação de bois, dos quais sai o couro. Também não haveria roupa íntima nem gravatas sem o cultivo das amoreiras que alimentam as lagartas do bicho – da – seda. Esse é o conceito que tenho procurado trazer para dentro do governo brasileiro.

    Precisamos exportar, aumentar nosso superávit comercial e dessa forma fazer uma poupança em dólares.Temos criado condições de desenvolvimento e de investimentos em outros setores fundamentais, como indústria, comércio e serviços.

    Mas é a agricultura que tem uma vantagem comparativa imediata.O crescimento da soja, por exemplo, aumenta o horizonte para o biodiesel. Podemos produzir mais 3 milhões de hectares de soja no Brasil só para fazer biodiesel.

    Se misturarmos 5% de óleo de soja ao óleo diesel, poderemos reduzir as importações de petróleo e gerar pelo menos 300.000 empregos diretos. Os japoneses já têm leis que autorizam a mistura de até 3% de álcool á gasolina.

    Se eles a utilizarem em 15% dos carros, precisarão importar 12 bilhões de litros de álcool, o que exigirá o plantio de outros 4 milhões de hectares de cana – de açúcar. Isso significaria mais de 1 milhão de empregos diretos e indiretos no setor sucroalcooleiro.

    Vejamos um exemplo concreto: no fim dos anos 70, a tonelada do suco de laranja valia pouco mais de 600 dólares em razão de uma superoferta mundial. Entre o natal e o Ano Novo, houve uma forte geada na Flórida.

    Em quinze dias, o preço do suco subiu para 950 dólares. Aqui, os produtores da paulista Bebedouro, a capital nacional da laranja, já que até então enfrentava uma profunda depressão, começaram a ganhar dinheiro. A primeira coisa que fizeram foi aumentar o salário de seus empregados.

    Depois, compraram tratores, arados, grades.Adquiriram também liquidificadores, máquinas de costura, televisão, roupa para a família. Isso gerou uma grande demanda no comércio. Casas foram reformadas, lojas ganharam pintura nova.

    Gerou-se emprego para pedreiros, carpinteiros, eletricistas.A prefeitura recolheu muito mais impostos, já que todos passaram a trabalhar e produzir mais.

    Os agricultores pagaram o que deviam e depois foram comprar terras nos Estados de Mato grosso, Goiás, Tocantins, Minas Gerais.

    A agricultura pode produzir isso tudo, além de transferir riqueza para outros setores da economia. Mas, para que esse processo ocorra de forma consistente e sustentável, é necessário abrir novos mercados, exportar mais, fazer uma reforma agrária com modelos adequados de crescimento e conquistar fronteiras agrícolas com tal respeito ao meio ambiente e à biodiversidade.

    Esse é o nosso desafio.

  • O Biólogo, a onça e o Ibama

    O ilustre biólogo Fernando A. está há 18 meses trabalhando na Fazenda San Francisco na sua tese de doutorado PHD ( Indiana State University, USA). O tema é: Grandes felinos, o homem e seus animais domésticos.

    Para o estudo já colocou colares radioativos em 14 onças; 13 pintadas e uma parda.
    Usando equipamento de alta tecnologia acompanha a localização de cada onça, que tem um rádio sinal exclusivo para ela.

    Quando por exemplo, houver ataque a um bovino, o Fernando é imediatamente avisado pelo rádio permitindo que ele localize e identifique a onça.

    A idéia é demonstrar quais vítimas o predador faz. Parece haver onças que só comem animais selvagens.

    De qualquer modo ele está sempre perambulando com seus aparelhos rádio receptores para estudar a vida dos felinos.

    Ele também distribui em pontos estratégicos armadilhas para captura de onças e para estudo das mesmas.

    Na radiosa e fresca manhã de 20 de Junho seguindo o sinal do rádio ele encontra uma bela onça fêmea presa na jaula em um aterro de canal de irrigação. Injeta seta de curare e a onça cai imóvel e dormindo.

    Retira a mesma da jaula para fazer as medições, verificando que ela havia ganho 21 Kg em 64 dias e estava prenha de dois gatinhos.

    Nesse momento, chega o Roberto que, interessado, solicita permissão para mostrar o evento ao grupo de turista que estava no passeio.

    Após alguma hesitação, Fernando concorda. Chamado pelo rádio o veículo com 28 turistas, chega em poucos minutos. Já havia acorrido ao local também a equipe do Globo Rural alertada pelo Roberto.

    Grande agitação com Ahhh..Ohhhh…. ao que o Fernando pede silêncio.

    A onça começa a se mover virando a cabeça para os expectadores, tenta levantar e cai de novo. Levanta nas patas dianteiras olha os visitantes, mas cai outra vez.

    Em uma 3ª tentativa, ela caminha em direção ao canal limite do carandazal, olha para trás e cai prostrada. Em um 4ª esforço, ela entra na água que tinha cerca de 40 cms de profundidade, desfalece e afunda a cabeça; ao que o Roberto grita: Fernando pega a onça, ela vai morrer afogada!!!

    Fernando hesita, Roberto grita:

    Se morrer o Ibama te prende!!!

    Por sorte do Fernando a onça acordou, e com dificuldade subiu a rampa do canal e após olhar mais uma vez os visitantes, adentrou o carandazal.

    Houve-se suspiros de alívio, seguido de salva de palmas.

    Fernando sorriu amarelo, e agradeceu.