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  • A personalidade do homem

    Sr. Laucídio e Dona Lúcia são um casal respeitável pelo amor e trabalho incessante que os uniu desde 1911. Seus filhos nunca conheceram desarmonia entre eles. Sr. Laucídio sempre teve como pessoas que o precediam em dignidade, sua mulher, Dona Lúcia, sua mãe, Dona Coelhinha, e sua sogra, Dona Leonor. Com elas sempre teve todas as deferências e delicadezas. Nunca se cansa de louvar-lhes os valôres e, em tudo o que conta faz questão de dizer: – Graças ao auxilio de minha Lúcia, que tanto me ajudou e tanta economia e trabalho fêz e sempre me estimulou.

    Aos auxiliares sempre prestigiou com respeito, justiça, dignidade e humanidade. Nunca faltou assistência a seus trabalhadores, quer escolar, quer sanitária. Cedo ainda já começava a construir-lhe moradias mais decentes e saudáveis.

    Em seus negócios sempre pautou-se pela honradez. O cumprimento ao trato feito é ponto de honra pra ele. Nunca desmoralizou algum filho ou encarregado desmanchando-lhes os compromissos sem cumpri-los. Se houver algo errado, cumpre primeiro, consertar ou acertar depois.

    O pagamento de compromissos em dia é para ele uma religião. Dona Lúcia e ele criaram inúmeros filhos sem pais.

    Nunca dá nada a um filho que não dê a outro. Faz questão de manter justiça entre eles. E ressalta: Se ganhamos com muito esforço alguma coisa, devemos manter o mesmo esforço para fazer justiça ao distribuí-la, a fim de que isto sirva para união e não desintegração e rivalidades na família. Pede aos filhos que não façam negócios entre si. Considera os negócios entre família a causa maior de rivalidades e aconselha: Façam negócio em conjunto, não um com o outro.

    Não negocia com empregados. E fundou a Cooperativa para serviços.

    Não vende animais cavalares. Única maneira de controlar o roubo. Se tiver sua marca é seu.

    Um dia me disse: -Respeite o direito de seu empregado mais humilde, assim como de seu semelhante. E faça sempre justiça . Lembre-se que ferir o direito alheio provoca seu instinto de reação.

    Tudo que se constrói sem base no espírito de Justiça, não dura, desmorona.

    Sua preocupação como amparar o gado na seca com alimento e água, assim como nos transportes, foge ao sentido puramente econômico. É interesse humano. É dó de ver os animais sofrerem e definharem por não saberem falar, pedir e queixar-se, como diz ele. É capaz de gastar muito mais do que uma vaca, para socorrê-la no parto.

    Tem horror à mentira e ao roubo. Qualquer um trabalhador seu que for considerado verdadeiro e correto, tem oportunidade de promoção e capacidade, receberá cargo de confiança.

    Na política sempre nos lembra: Cuidado! Em política somos levados a atribuir qualidades em correligionários que não as têm. Assim como esquecer as qualidades do adversário e atribuir-lhe defeitos em proporções tão grande que quase sempre deturpa a verdade.
    Não é dado a fazer previsões. Quando lhe perguntam: Será que chove hoje? Ele responde: Amanhã eu lhe conto.

    É alegre e bem humorado. Receptivo. Bom ouvinte e comedido ao emitir seu pensamento. Não faz promessas. Quando diz: É provável que eu vá ou que eu possa ajudar, pode contar certo porque é provável mesmo.

    O planejamento para tudo é seu lema. Tudo ele quer saber os detalhes, funcionamento, capacidade, custo de produção.

    Não faz nada por fazer. Tudo tem objetivo ou finalidade. Fazer alguma coisa para bonito nunca foi com ele. Faz para ser útil para alguma coisa.

    Sempre dispensa atenção a quem mais precisa dela. Num natal, com a família toda reunida, encontrei-o com o filho da empregada no colo, pois a mãe estava nos fundos da casa ocupadíssima com os trabalhos para atender à reunião. E me disse ele: Meus netos tem os pais para atendê-los até em excesso. Este pobrezinho nem pai tem e a mãe não tem tempo, por isso eu estou atendendo-o.

    É um observador nato. Vive observado como se comportam os animais e as plantas nos diversos períodos do ano e em circunstâncias diferentes. Preocupou-se sempre em complementar as deficiências de nutrição do gado e humanas. Fez esforço enorme para introduzir a soja na alimentação de seu pessoal, mas sem ser compreendido.

    Faz grande esforço para introduzir novas forrageiras. E vive à espreita de novidades neste campo. Crê numa possibilidade de melhora e aperfeiçoamento quase ilimitados.

    Considera a terra um laboratório capaz de se recuperar e fertilizar-se. Acha que o homem é que a destrói com o descuido. Um dia imaginando as imensas possibilidades que a terra oferece, disse quase com um complexo de frustração: O que eu sinto é não ter capacidade de tirar da terra tudo o que ela pode dar. E não era modéstia. Ele se sentia incapaz mesmo.

    Seu entusiasmo ao fundar uma nova fazenda é juvenil.

    Planeja e organiza estradas, divisão de invernadas, mangueiros, casas, aguadas, escoamento da produção e tudo afinal.Com um punhado de homens de sua têmpera e experiência, a Amazônia deixaria de ser um problema.

    Sempre que está andando, não lhe escapa a posição do Sol e dos Pontos Cardeais. Para onde correm as águas. A fertilidade do solo. A vegetação. As condições e desenvolvimento dos rebanhos que encontra. A natureza em geral. Observa o comportamento dos bichos e insetos que vê. Acha que a natureza é dotada de todos os recursos conhecidos e inúmeros desconhecidos.

    Extremamente trabalhador. Quanto mais difícil a tarefa, maior as suas energias. No trabalho como na vida, sempre um espírito prático. Sempre orienta seus trabalhadores para tirarem o máximo de proveito por esforço feito. Em trabalhos em geral, conhece de tudo. E o que não conhece, “usa a cabeça”, expressão que põe em prática com frequência. No trabalho como em família, um líder. É querido pelos trabalhadores que já trabalharam com ele. Nunca ouvi um grito ou uma palavra grosseira em sua boca. Nem bajulação. Com a dignidade que trata ao Presidente da República ou qualquer outra figura importante, trata a pessoa mais humilde, sempre com respeito e distinção. Se tem de chamar a atenção de alguém em falta, nunca a humilha. Deposita confiança nos brios da pessoa e apela por eles.

    Sua luta no trabalho a vida toda e principalmente com gado foi tanta que agora só sonha com lidas de gado. Quase sempre com animais bravios a lhe investir. Mesmo dormindo, não descansa. E muitas vezes tem sonhos cheios de lógica. Pôr exemplo: Certa vez ele andava às voltas com plantação de mandioca para mais tarde soltar a porcada nos mandiocais. Então sonhou que um filho lhe aconselhou plantar mangarito. Pôr ser uma raiz pequena e quando o porco come, não fica pedaços mordidos pelos animais a apodrecer como a mandioca. Não é interessante a lógica?

    Estes são os traços rápidos de Laucídio Coelho:
    Bom pai, bom marido e bom patrão.
    Empreendedor, correto, eficiente e modesto.
    Para uns, um homem rico.
    Para outros, um benfeitor.
    Para os comunistas, um latifundiário.
    Para os ruralistas, um exemplo.
    Para Mato Grosso, um desbravador.

  • Por que estou no acampamento?

    O capataz me perguntou:
    — Doutor, eu posso ficar nesse acampamento aqui do asfalto?

    Estranhando eu retruquei:
    — Como você vai acampar e tocar o serviço aqui na Fazenda? Você está pedindo a conta ?

    — Não doutor, eu mando meu filho ficar lá. Ele vem comer aqui, e dormir, pois é pertinho!!

    Perguntei:
    — Que vantagem você leva ?

    Resposta:
    — Fazendo a inscrição eu passo a receber a cesta básica todo mês e quando sair o lote eu mando o menino pra lá, ou ponho uma “pessoa minha lá”.

  • O sonho do soldado

    Ouvi a seguinte estória:

    Um soldado do Afeganistão do Norte (rebelde) estava dando uma entrevista para uma repórter inglesa, já madura em anos.

    Lá pelas tantas ele pergunta:

    S – A Senhora conhece moças americanas?
    R – Sim, várias, diz a repórter.
    S – Eu admiro muito as americanas, meu sonho é casar com elas.
    R – Mas o Senhor quer casar com mais de uma ?
    S – Sim, porque nossa tradição é o homem ter quatro mulheres. Eu posso dar até quatro “gericos” por cada uma.
    O dote anual naquele País é o “Jegue”, não o camelo !
    R – Rindo bastante: Não vai ser fácil, mas como as americanas são imprevisíveis vou trabalhar o assunto, porque você é um rapaz muito “good loocking” e simpático!!!
    S – Por acaso a Senhora conhece a Julia Roberts ?
    R – Já entrevistei ela uma vez. Muito charmosa !!!
    S – Suspirando: Por ela “eu dou” até oito “gericos” !!!

  • O Zé do boi e a onça viúva

    Terminou agosto e veio setembro com duas chuvinhas antes do dia 07 do ano de 1974.

    O Zé do Boi contando com as chuvas estava com a caçada marcada no Retiro da Onça Brava no Vale do Rio Negro, Ele e o Dr. Mário Arruda, levando o zagaieiro Ortiz para “garantia”!!

    No terceiro dia, já cansados, eles soltaram os cachorros na beira do “Capão da Festa”, assim chamado, pois onças se reuniam lá fazendo “estripulias”.

    O cachorro mestre Paletó farejou logo e seguiu uma batida. Dr. Mário interpretou pelo latido que era um macharrão.

    Trilhou. Depois de uns 200 metros o latido mudou. Vira o Dr. Mário e diz: ele achou a onça no cio. Vai ser aquela que escapou de nós ontem! Na caçada do dia anterior eles tinham perseguido uma fêmea mas no final mataram um macharrão subido num pé de Angico Preto.

    Continuaram avançando, seguindo a trilha da onça. O Dr. Mário comentou: Essa onça já desmamou o filhote, pois onça parida não entra no cio.

    Na beira do Capão, amarraram os cavalos e seguiram a pé, acompanhando os quatro cachorros. Lá adiante o Dr. Mário diagnosticou: acuou no chão!!

    O Ortiz foi na frente abrindo a foice uma picada. O Zé do Boi levava a Ponto a pontada e o Ortiz carregava da Zagaia na posição de espera pelo pulo da onça.

    De repente o chão tremeu com o rosnado da Pintada que avançou, já de pé se livrando dos cachorros.

    Quando o Dr. Mário ia dizendo: Vai é macharrão, o Zé do Boi acertou uma bala bem no peito da onça. O Dr. Mário concluiu: esse bicho tomou o lugar do macharrão que nós matamos ontem e a onça no cio escapou!!!

    Não conseguiram saber so os bichos tinham acasalado mas o paraguaio Ortiz que eles tinham sim, pois o macharrão morto tinha “cara de satisfeito”!!

    O comentário final do Dr. Mario: Matamos dois machos, mais a fêmea vai ter dois filhotes no ano que vem!!

    O brejo do Rio Negro é a região de mais Onça Pintada do planeta Terra. Em 1974 o Zé do Boi e Dr. Mário já eram ecologistas. Em três dias de caçada mataram dois machos e nenhuma fêmea!!